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Bem-vindos!

Apesar de soar meio clichê, eu sempre quis ter um blog. Quem cresceu nos anos 2000 e 2010 vai se lembrar das cenas clássicas de comédia romântica em que a protagonista, com seu notebook rosa cheio de adesivos, mantém uma página onde escreve sobre a vida, faz análises e compartilha experiências.

E, convenhamos, quem já assistiu Sex and the City ou The Bold Type não pode negar que sonhou, ao menos uma vez, com esse lifestyle de escritora.

Pois bem: decidi criar este espaço para escrever um pouco sobre mim, sobre minha vida e minhas opiniões (que ninguém pediu). Afinal, tem coisas que só existem quando são contadas. E tem histórias que só fazem sentido quando alguém as lê.

À fã do Justin Bieber, minhas desculpas

Uma vez, nos comentários de um post do Instagram, eu escrevi para uma menina: “morra!”. Era uma discussão acalorada porque ela tinha falado mal do One Direction e eu, no auge da fúria, ataquei o Justin Bieber. Eu tinha dez anos.

Naquele dia, meus pais me deram uma bronca daquelas: “seja gentil, trate o próximo com amor, não deseje o mal a ninguém, porque pesa mais em quem deseja do que em quem recebe”. Apesar de ouvir desde pequena, foi a primeira vez que eu realmente entendi e decidi pôr esse ensinamento em prática.

Não é fácil. Tem dias em que a vontade é justamente o contrário: que todas as energias negativas encontrem endereço certo. Mas, como sou meio supersticiosa, o arrependimento vem rápido. Respiro, peço desculpas a Deus, ao universo, às forças invisíveis que governam o acaso. E sigo tentando.

O psiquiatra Luiz Sperry defende que todos nós temos desejos — e, sim, entre eles, alguns mais violentos. Isso não é exclusividade de alguns, está em todos nós. Quando criança, aprendemos que não é legal pensar assim do primo ou da coleguinha. Os sentimentos hostis são empurrados para o canto, mas seguem ali adormecidos.

O que antes era despejado na menina do post, vira raiva do chefe, do motorista que não dá seta, da atendente do telemarketing, das subcelebs da internet ou daquela pessoa que votou no candidato que eu odeio.

E a escolha entre alimentar o ódio ou cultivar o respeito continua sendo nossa. E quando digo “nossa”, não falo de partidos ou ideologias, mas de mim, de você, dos colegas de trabalho, dos amigos de infância, dos parentes. Pequenas atitudes do dia a dia que, somadas, desenham a forma como convivemos e nos relacionamos.

E o que uma estudante de 21 anos sabe sobre tudo isso? Pouco. Mas sei o tipo de mundo em que quero viver e criar meus filhos — e, principalmente, o tipo de mundo que eu não quero.

E deixo aqui um pedido de desculpas à tal fã do Justin Bieber. Ela nunca vai ver, muito menos me perdoar, eu sei. Mas se tem algo que aprendi, também aos dez anos, quando a professora de inglês nos fez ensaiar por semanas Man in the Mirror, é que “se você quer fazer do mundo um lugar melhor, olhe para si mesmo e faça a mudança”.

Não é egoísmo partir

Egoísmo é ficar onde já não existe cuidado. Já pedi demais, já expliquei demais, já esperei demais. E aprendi que quem quer, fica — e quem não quer, sempre encontra um jeito de ir.

É escolher quem permanece depois que a festa acaba, quando as lágrimas já secaram e o silêncio pesa. Quem ri junto, mas também chora sem vergonha. Quem não mede presença por tempo, porque sabe que laços verdadeiros não têm prazo de validade.

E cabe entender que alguns laços também morrem. Morrem de falta de reciprocidade, morrem quando o amor não é cultivado fora das fotos e das legendas bonitas. Morrem quando o esforço vira via única.

As pessoas dão o que são, como janelas: algumas abertas, outras fechadas, algumas refletindo luz, outras opacas. Não adianta medir palavras ou calcular passos para entrar por uma janela que nunca esteve aberta. E a gente precisa aceitar que não é nossa missão forçar certas fechaduras que enferrujaram.

O tempo ensina que há ritmos que não se encaixam, e que evoluir é, muitas vezes, desapegar. Tudo bem não caber mais nas mesmas conversas. Tudo bem não se reconhecer em quem fui há seis meses. Quanto mais a gente se transforma, mais praticamos o desapego. O novo assusta, o desconhecido é um mergulho em águas turvas, mas virar páginas é o que nos dá fôlego. Somos mutação constante.

A paz é o lugar onde volto a respirar. É o silêncio que conforta, a ausência que não dói, o espaço que abraça. É quando o coração desacelera e a alma encontra sossego para existir no seu próprio tempo. Nesse descanso, percebo que seguir em frente é natural, como a borboleta que, sem pressa, deixa o casulo e descobre que pode voar.

Baratas a bordo

Tudo corria normalmente até que eu e mais três amigas, sedentas de sol e mar, decidimos encarar um bate e volta de buzão (ônibus, em bom baianês) para o Rio de Janeiro, no fim de semana.

Na semana que antecedeu a viagem, decidimos comprar a passagem de volta e encontramos um ônibus leito-cama por um preço justo, que sairia no fim da tarde e chegaria em São Paulo perto da meia-noite. Resolvi pesquisar sobre as empresas de ônibus, já que não tenho o costume de viajar assim. Todas as empresas tinham avaliações absurdas: reclamações de atrasos, ônibus quebrado, mala danificada, e eu me lembrava vagamente de ter lido algo sobre baratas. Mas como nos encontrávamos diante do sujo e do mal lavado, decidimos optar pela empresa que oferecia o melhor custo-benefício e um horário conveniente.

O fim de semana tinha sido perfeito, e a volta prometia um desfecho confortável. Tudo parecia em ordem: cadeiras reclináveis, espaço para esticar as pernas e, como bônus, um homem lindo sentado ao lado das minhas amigas, o que rendeu muitos comentários no nosso grupo de WhatsApp. As primeiras três horas de viagem foram tranquilas: conversa jogada fora, risos e uma pausa para o cochilo merecido. Tudo seguia bem, até que fizemos uma parada no Graal de Aparecida para esticar as pernas e jantar. Nada suspeitávamos do que nos aguardava no segundo ato dessa viagem.

Voltamos ao ônibus e, assim que nos acomodamos, as luzes estavam acesas e o casal que sentava atrás de mim pegou suas coisas e subiu para o segundo andar. Não entendi o porquê da troca, afinal, estávamos muito mais confortáveis ali embaixo. Foi então que Cissa, uma das minhas amigas, avistou uma barata quase dentro da sua mochila. Nos entreolhamos, e minutos depois, o motorista entrou no ônibus para dar partida. Decidimos contar a ele sobre a barata, mas a única resposta que obtivemos foi: “Eu já conversei com a empresa, mas eles não fazem nada sobre isso.” Antes que ele fosse embora, minha curiosidade falou mais alto e perguntei por que o casal tinha trocado de lugar. Com um sorriso quase perverso, ele respondeu: “Baratas, né? Ainda faltam duas horas e meia..

Viagem de família em modo sobrevivência

Nas últimas duas semanas, sol era tudo o que eu pedia. De viagem marcada com meus pais, que, depois de meses, vieram me visitar em São Paulo, eu torcia para que o clima louco do Sudeste nos agraciasse com essa bondade. Mas, ao acordar na sexta-feira, feriado da Proclamação da República, vi o mundo desabando pela janela. Ainda assim, mantivemos o pensamento positivo. A chuva não nos assustou; o que assustou mesmo foi o engarrafamento de 8 horas que pegamos para percorrer 250 km.

Em meio a paradas estratégicas para forrar o estômago e aliviar a bexiga, fomos aprendendo a rir da situação. A playlist do carro virou trilha sonora de nossos papos filosóficos, e acho que até comecei a delirar quando jurei ter visto os famosos “Charles e Chiquinho” no carro ao lado. Talvez fosse o cansaço, talvez fosse a chuva. Ou, quem sabe, uma pitada de loucura causada por tantas horas na estrada.

Mais um obstáculo surgiu no nosso caminho na hora de descer a serra, pela estrada de Cunha: uma média de três carros quebrados, neblina, chuva e uma via interditada por causa de um caminhão (numa estrada de apenas duas vias).

Nessa altura, a água que levamos já tinha acabado há muito tempo, e não acreditávamos que nenhum mercado ou posto fosse aparecer tão cedo. Foi então que, como em uma cena de filme, avistamos água escorrendo por uma rocha, formando uma pequena cachoeira. “Pode ser uma nascente. Acho que está limpa”, defendeu minha mãe, tentando nos convencer do que já parecia ser um ato de desespero. Então, observamos o homem do carro à frente ter a mesma ideia. Ele encheu uma garrafa de 2 litros e entrou no carro. Minutos depois, abriu a janela, cuspiu o líquido e jogou fora toda a água. Aquela cena nos bastou para desistir da empreitada.

Um reflexo bonito

Hoje, mais do que nunca, me sei sortuda.
Há quem tenha crescido com a ausência.
Há quem tenha o pai por perto - mas não por dentro.
E há quem já não o tenha mais.

Pode soar como tolice, eu sei. Mas quanto mais escuto histórias de famílias tão distintas da minha, mais compreendo o privilégio que me foi dado.

É estranho pensar que nem todo mundo teve um Olimpio na vida. Um pai que não deixava a gente andar descalça quando estava gripada. Que exigia chapéu na cabeça na fazenda, pra se proteger do tal “sereno”, essa entidade misteriosa e respeitada.

Que despertava horas antes do dia clarear só pra passar uma pomadinha anestésica no meu braço antes de um exame de sangue. Talvez nem adiantasse tanto assim, mas eu me sentia mais tranquila. E isso bastava.

Um pai que levava eu e minha irmã ao shopping depois da escola, só pra “tomar um café” - código, na verdade, pra comer doce. Mesmo sabendo que era uma terça-feira qualquer, e que minha mãe o mataria.

Você sempre foi o melhor contador de histórias que conheci. E das piadas... bom, nem sempre as melhores. Mas sempre suas.

E então me pergunto: se não fosse você, o que seria de mim?

Porque eu sou um pouco você.
E você é um tanto de mim.

A juventude tem o péssimo hábito de não agradecer o suficiente pelas coisas simples. Então, hoje, deixo aqui um muito obrigada.

Obrigada por tanto amor.
Pelo cuidado.
Pelo carinho.
Pela proteção.
Pela paciência - que as vezes te escapava, mas sempre voltava.
Pelos incentivos.
E até pelas broncas, mesmo as difíceis de admitir.

Não tenho muitas certezas nesta vida.
Mas se for verdade que nos tornamos espelhos daquilo que nos criou, então fico em paz. Porque o reflexo... é bonito.

Te amo e Feliz Dia dos Pais.

Nem cá, nem lá — ou os dois

Quando estou em Salvador, sinto que há tanto mundo me esperando. Oportunidades, gente nova, lugares pra explorar. Não quero me prender a uma cidade só. Quero o novo, o inesperado, o que rompe a rotina.

Mas quando estou em São Paulo, sinto falta do meu mundinho. De reconhecer rostos num café. De repetir caminhos, pedir o de sempre, encontrar conforto naquilo que já é meu.

Viver entre cidades é isso: carregar saudade e descoberta ao mesmo tempo. Ter repertório pra transitar entre dois vocabulários, dois sotaques. Se sentir inteira demais pra caber num lugar só — e ainda assim desejar, vez ou outra, pertencer por completo a algum canto.

Acho que isso também é parte de ser jovem: a cabeça sempre no futuro, imaginando onde mais a gente poderia estar, o que ainda falta viver. Mas talvez a maior coragem seja essa: parar e viver o agora.

As cidades mudam. As pessoas crescem. Os lugares fecham, outros nascem. E a gente também muda, tentando se refazer entre ruas que já conhece e outras que ainda nem pisou.

Posso ter três almas gêmeas?

Uma vez eu li um texto que dizia: sinais de que você já encontrou sua alma gêmea platônica.

Era longo, cheio de situações que a gente vive sem nem perceber o quanto são raras. Mas algumas frases ficaram marcadas em mim. Elas são as primeiras pessoas com quem você quer compartilhar suas boas notícias. E também as ruins. E até as mais chatas. Resolver coisas na rua vira passeio quando elas estão no banco do carona. Vocês conseguem rir uma da outra depois de uma briga. Falam sobre as coisas mais pesadas e as mais bobas numa mesma conversa, com naturalidade. O tempo passa, as coisas mudam, mas o amor só cresce.
E quem diria que eu teria a sorte de encontrar duas almas gêmeas assim?

O amor que eu sinto por vocês é inexplicável. Lembro de uma entrevista da Mônica Martelli, em que ela disse algo muito bonito: “Eu acho que a gente se apaixona pelos nossos amigos. Tem pessoas na vida que a gente esbarra, e tem pessoas que a gente encontra.” Com vocês, foi encontro. Talvez mais que isso. Nunca fui de acreditar muito em acaso ou destino - mas o que mais explicaria eu e minha irmã conhecermos, aos três anos, na praia, duas meninas também gêmeas. que nunca mais saíram da nossa vida?

A expressão “escrito nas estrelas” parece um pouco exagerada, mas eu não saberia dizer de outro jeito. Porque tenho uma certeza que não sei de onde vem, mas que grita aqui dentro: em todas as vidas, seria assim. Nós quatro, juntinhas.

É clichê, eu sei, mas eu sempre repito que os amigos são a família que a gente escolhe ao longo da vida. São aqueles com quem nos sentimos mais seguros, mais abertos, mais inteiros. Aqueles com quem falamos coisas que nem contaríamos para nossos pais. Que não nos julgam - e se julgarem, estarão ali mesmo assim, com um conselho ou um puxão de orelha. Obrigada por serem essa extensão de mim.

E sim, estou contando os segundos pra gente comemorar, porque, como escreveu Tom Jobim, “não quero mais esse negócio de vocês longe de mim.” Feliz aniversário.

Para Clara e Cecília, minha família escolhida e eterna.

Crônicas de um feriado na serra

Sexta-feira Santa, céu ainda escuro e um objetivo claro: fugir do engarrafamento. Às 5h30, já estávamos na rua, na esperança de encontrar Campos do Jordão ainda acordando.

E conseguimos: às 9h40, cruzamos a entrada da cidade. Só que nossas barrigas começaram a entoar um coral desafinado de fome. A primeira placa de café que vimos foi a escolhida sem pensar duas vezes: Café Manhattan. Sanduíches bem servidos e chocolate gelado no ponto — perfeito para forrar o estômago e começar o dia com carinho.

Barriga cheia, era hora de seguir para o nosso refúgio e, mais uma vez, a rainha dos achados (sim, euzinha) acertou em cheio na escolha do Airbnb. Um chalé charmoso, escondido num bairro mais remoto de Campos, com uma vista panorâmica da cidade. A localização ficava a cerca de 20 minutos de carro do centro, na altura do portal, mas isso não foi problema: nosso querido amigo Matheus se comprometeu a ser o motorista oficial do feriado. E, com ele no volante, a gente só precisava se preocupar com o próximo passeio, a playlist que íamos ouvir e as paradas gastronômicas do dia.

O combo madrugar + viagem nos venceu e capotamos pela tarde. Por volta das 16h, despertamos e fomos explorar o famoso centrinho. Spoiler: estava lotado.

A parada da noite foi clássica: Cervejaria Baden Baden. Quem curte chopp e cerveja artesanal estava no paraíso. Já eu e minhas garotas, que ansiávamos por uma taça de vinho tinto para aquecer o corpo, encaramos os preços no cardápio com um certo respeito.

E aqui entra a filosofia que norteou boa parte da viagem: “mão de vaca morre pobre”, não é isso que dizem? E a gente levou isso a sério, talvez até demais. Alguém devia ter nos parado, mas seguimos firmes, rindo alto e ignorando as notificações do PicPay.

Por volta das 21h, decidimos que era hora de voltar para o nosso cafofo e dar início à verdadeira noitada: jogos, baralho e muita fofoca. Mas, para um grupo que tinha começado o dia antes do sol nascer, o sono bateu rápido. À 1h da manhã, todos já estavam apagados, prontos para recarregar as energias e aproveitar o sábado — que prometia ser ainda mais cheio de histórias.

No sábado de manhã, partimos para a primeira aventura oficial da viagem: o Parque Tarundu. Com várias opções de ingresso, escolhemos o fast pass, que dava direito a uma hora no parque com acesso a diversas atrações.

Aproveitamos bem o tempo e conseguimos fazer tiro ao alvo e as duas tirolesas, que
tomaram a maior parte da nossa visita. A primeira tinha sessenta metros de altura e, mesmo eu que nunca tive medo de altura, cheguei lá em cima me tremendo inteira. Uma garotinha de uns sete anos saiu correndo e se jogou sem pensar. Já eu... bem, precisei ser
empurrada pela moça da assistência porque simplesmente travei na beira.

Terminada nossa hora no parque, fomos direto para o almoço no Bonanza Grill, um estaurante de carnes com vista linda para a serra e uma playlist country de lascar — aquelas que dá vontade de bater bota no chão e pedir mais uma costela.

Em seguida, voltamos ao chalé para aquela pausa estratégica: banho, troca de roupa e uma passadinha no espelho. Afinal, a noite nos esperava com um objetivo claro: voltar ao Capivari e comer fondue, como manda o roteiro clássico de Campos do Jordão.

O que a gente não sabia é que, nos restaurantes mais famosos do centrinho, a fila para comer fondue podia ser desanimadora — em alguns, chegava a ter mais de 80 mesas na frente. E foi aí que apareceu a solução perfeita: o Itália Cantina e Ristoranti.

Com uma decoração simples e charmosa, o restaurante não tinha fila e nos recebeu de forma acolhedora. O fondue era muito gostoso, bem servido e com ótimo custo-benefício, sem nada a dever aos lugares mais disputados.

E, mais uma vez, a nossa noite não acabou ali. O sábado foi regado a “Cidade Dorme”, nosso jogo oficial da viagem, com direito a algumas discussões acaloradas (não vou negar que talvez eu tenha me exaltado um pouco), batalhas de dança e papos filosóficos
sobre a vida.

Quando nos demos conta, o céu já começava a clarear. Vimos o sol nascer juntos: simples, inesperado e bonito.
Acordamos no domingo de Páscoa meio quebrados, uns pela ressaca, outros por uma noite mal dormida. Já era quase meio-dia quando percebemos que precisávamos correr para não perder nossa reserva no L’Osteria Villa Casato, o restaurante escolhido para nosso almoço de Páscoa entre amigos… ou melhor, entre família.

Instalado na antiga casa da família Matarazzo, preservada desde a década de 1940, o restaurante combina charme histórico com a sofisticação da alta gastronomia. O espaço é elegante, rodeado por natureza, canto de pássaros e ar puro.

O cardápio é enxuto, o que facilita a escolha, e tudo o que provamos estava muito bem executado. O atendimento também se destacou — garçons atenciosos, que sabiam apresentar os pratos com detalhes e cuidado. Os preços são altos, é verdade, mas condizem com a experiência entregue.

Dalí, seguimos para o Bosque do Silêncio, onde resolvemos pregar uma peça em uma das nossas integrantes: dissemos que era proibido falar dentro do bosque. A farsa durou uns cinco minutos até que a gargalhada coletiva entregou tudo. O passeio é tranquilo e bonito, mas o que mais gostamos foi o final da tarde passado na filial da Baden Baden dentro do bosque.

Calibrados para a noite, fomos ao Parque Capivari em busca de sobremesas. Eu fui de churros, e que delícia! Outros pegaram crepe de Nutella, e os mais pacientes enfrentaram a fila do Royal Trudel. Cada um seguiu sua vontade, e todos terminaram felizes.

Pra não deixar a noite acabar cedo, paramos em uma mesinha na calçada do bar Mercearia, que nos ganhou com uma playlist eclética, indo de axé a forró... me senti em casa! Entre um gole e outro, as conversas se estendiam, e algumas garrafas de vinho depois, sabíamos que era hora de encerrar.

Na segunda de manhã, voltamos à estrada com aquela mistura de cansaço bom e coração leve. Campos nos deu risadas, paisagens lindas, comida gostosa e momentos inusitados. Foi o tipo de viagem que a gente repete mentalmente por dias.

Natal em Amsterdã

Depois de meses ouvindo minha família falar sobre Amsterdã, finalmente entendi o motivo do fascínio: a cidade toda parece o cenário de um filme, no qual você pode se perder pelos inúmeros canais enquanto admira as casinhas coloridas e inclinadas. Mas, para mim, a principal questão de Amsterdã é: como a cidade consegue ser tão fofa e, ao mesmo tempo, tão louca?

A capital holandesa tem programações para todos os gostos. Se você curte história, visite o anexo de Anne Frank. Já para os amantes de arte, o Museu Van Gogh é imperdível. Mas compre os ingressos com antecedência, as filas são longas e a demanda altíssima. Vale a pena explorar a Museumplein, a praça dos museus, e dar uma volta no Vondelpark, logo ao lado. E o Red Light District à noite é parada obrigatória — sim, você leu certo. Conhecer as famosas vitrines, coffeeshops e sex shops faz parte da experiência da cidade.

Além disso, eu tive a sorte (ou seria o destino?) de conhecer Amsterdã no inverno, mais especificamente no Natal. As ruas estavam todas decoradas com luzes natalinas e, entre uma programação e outra, ainda pudemos aproveitar os mercadinhos de Natal, com vendinhas e atrações.

E para completar a experiência, o transporte público funciona perfeitamente: bondes, ônibus, trens, barcos e, claro, muitas bicicletas.

Nos hospedamos no Hotel Not Hotel ( @hotel_not_hotel ), uma “pousada” moderna e divertida, com quartos disfarçados atrás de estantes de livros, kombis e espelhos. O hotel também tem um bar e um restaurante tailandês. Ele fica a 30 minutos a pé do centro, mas tem uma estação de tram bem perto que te leva diretamente à Praça Dam. E, se você preferir caminhar, a caminhada é super agradável, passando pelo charmoso bairro do Jordaan.

Eu poderia passar horas aqui falando sobre as inúmeras coisas que Amsterdã tem a oferecer, como o Begijnhof, uma comunidade fundada em 1346 que abriga uma irmandade feminina católica laica, ou sobre restaurantes imperdíveis como o Burgerfabriek, a Pizza Beppe e os bolinhos do Bun Bun. Mas todas essas dicas estão nos meus destaques de Amsterdã, então é só dar uma olhada por lá!

Como invadir a própria casa: o que fazemos por amor

Com o coração apertado de saudade, não consegui ficar muito tempo longe de Salvador. Voltei com uma boa desculpa: fazer uma surpresa.

Comprei as passagens, inventei uma mentirinha para descobrir a programação dos meus pais e recrutei minha prima e cúmplice oficial: Véu.

No aeroporto, encontrei minha motorista de fuga e seguimos para o destino final. A ideia era entrar pelos fundos, com a ajuda de Daci, que trabalha lá em casa há anos e topou entrar no plano.

Tirei os sapatos, dei play na câmera e fui até os quartos. Mas encontrei a casa... vazia. Meus pais tinham saído. Com esse contratempo, reconfigurei o plano e subi pro segundo andar com o computador — precisava trabalhar e me esconder. Só que esqueci os sapatos na porta.

Logo ouvi o barulho da chave. Desci correndo e ouvi meu pai perguntando à Daci de quem era aquele sapato na entrada. Quando percebi que ela não ia conseguir segurar a mentira por muito mais tempo, decidi dar as caras.

Ele levou um susto, achando que alguém tinha invadido o apartamento:
“Pode me levar pro hospital, você quase me matou do coração.”

Mas agora, meu novo aliado foi buscar minha mãe no salão de beleza e avisaria quando estivessem chegando.

Me escondi atrás do sofá e esperei. Quando o momento chegou… foi grito, foi choro, foi abraço longo e apertado.

Quando me perguntaram o motivo da surpresa, disse que era pra ter sido no Dia dos Pais, mas o preço das passagens não colaborou.

E é verdade, em parte. Porque, no fundo, é mais íntimo. É poder, com meu salário, comprar não só uma passagem, mas um reencontro. É transformar em especial um fim de semana qualquer deles.

Pagaria o preço que fosse, enfrentaria o perrengue e voltaria por Guarulhos às 2h30 da manhã, tudo de novo — só pra viver mais três diazinhos com eles.

Foi rápido e corrido, mas foi perfeito. E como “nem gosto” de uma referência musical, encerro com Tom e Vinicius:

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar.

Bruxelas em dois dias (e muitas histórias)

Com o coração apertado, mas ansiosa para conhecer novos lugares — afinal, já estávamos em Amsterdã há cinco dias — partimos para nossa próxima aventura. Duas horas e meia depois, chegamos à estação de trem de Bruxelas. Apesar do perrengue para tirar as malas do trem no curto tempo em que ele parava ali antes de seguir para Paris, deu tudo certo.

Ficamos em um Airbnb muito fofo, a sete minutos da estação. Era uma townhouse de cinco andares. Os quartos eram separados, mas as áreas comuns, como cozinha e sala, eram compartilhadas. Ah! E o banheiro! Isso mesmo, nos quartos tínhamos chuveiro, mas a privada ficava em um lavabo no térreo.

Por Bruxelas não ser muito grande e por estarmos lá por apenas dois dias, fizemos a seguinte estratégia: no primeiro dia, iríamos rodar sem rumo e desbravar a cidade, enquanto no segundo, visitaríamos os pontos turísticos, que eram mais distantes.

E assim fizemos. Andamos e a cada esquina nos deparávamos com algo novo — uma construção grandiosa, um parque e até mesmo uma roda-gigante! Também aproveitamos esse dia para fazer comprinhas, provar os famosos waffles belgas, ver um show de luzes no centro e, de quebra, caímos no meio de uma maratona noturna.

No dia seguinte, saímos com objetivos: visitar o Parc du Cinquantenaire, o Parque de Bruxelas, o Palácio Real, o Palácio da Nação e a Catedral. Também foi ótimo para vermos o centro durante o dia e conhecer a Galeries Royales Saint-Hubert, a galeria comercial mais antiga da Europa. Essa foi a primeira vez que tivemos um dia ensolarado na viagem, e talvez por isso tenha sido tão especial. Até o Papai Noel nós vimos!

À noite, a temperatura caiu e, existe forma melhor de se aquecer do que tomando uma? Sentamos na cervejaria Delirium ( @deliriumvillage ) e, para alguém que não toma cerveja, adorei a Red Beer de cereja deles. Copo atrás de copo, fomos parar em um karaokê num pub irlandês (e voltamos para casa às 5h).

O que posso dizer? Pelo tanto de coisa que fizemos, nem parece que passamos só dois dias na cidade! E passaria muitos mais, pois agora Bruxelas conquistou um lugar no meu coração e, ouso dizer, foi o meu destino favorito.

Um caso de amor não tão antigo

Há quase quatro anos a gente se encontrou — e desde então, não largou mais. Cada um com seu jeitinho, seu caos, sua calma… e juntos, viramos abrigo.

No fim das contas, acho que é isso que importa: encontrar pessoas que também são lugares. Lugares de amor, de leveza, de descanso. Onde a gente cabe inteiro, sem precisar se encolher. Onde rir alto, falar besteira e ser vulnerável é não só aceito, mas celebrado.

Amo as flores que não preciso pedir, os encontros que não me preocupo em planejar, os gestos de carinho, o tempo de qualidade, o toque, registrar momentos, as declarações em voz alta. Amo tudo isso — e, acima de tudo, amo vocês dois.

E por vocês, eu iria a pé de São Paulo a Salvador. De preferência com uma playlist de Adele, Ed Sheeran ou Skank, uma besteira para comer e muita risada no caminho.

Já que a gente colecionou tantos ditados nessa viagem, termino com mais um. É como dizem: na jornada da vida, os amigos são as paradas mais importantes (às vezes, também os desvios mais bonitos).

Nossa despedida à francesa

Apesar de ser uma organizadora ansiosa, deixei a responsabilidade de Paris completamente nas mãos de minha irmã. Não me preocupei com museus, restaurantes, pontos turísticos, trens, roteiros, nadinha. Afinal, a querida era quase uma parisiense nata, além de essa ser a única cidade da viagem que eu também já conhecia, então estávamos mais tranquilas.

Chegamos no aeroporto de Orly e pegamos um metrô até a cidade, já que ele fica um pouco afastado. Da estação, andamos uns 20 minutos (nada fácil com várias malas) até o hotel. Já era 00:00, então a rua estava vazia. O bairro onde ficamos foi Porte de Montmartre, que parecia saído diretamente de um filme de subúrbio francês. Apesar de ser bem localizado, as ruas tinham baladas, feiras e muitos imigrantes fumando cigarros a cada esquina.

Assim que chegamos no hotel, pedimos um delivery de Kebab (eu era viciada na época do intercâmbio) com Döner In Box, que vem numa caixa com batata frita e aioli. Tomamos banho e fomos descansar, pois no dia seguinte a ideia era acordar cedo para turistar.

A parte do acordar cedo ficou com Deus, pois estávamos tão cansadas que, quando vi, já tinha dado 11h da manhã. Nos arrumamos correndo e fizemos o que mais fizemos nessa viagem: andar.

Lali havia marcado para almoçar com uma amiga no O’Tacos ( @otacos ), um fast food francês de tacos (meio aleatório, mas muito gostoso). Ela nos encontrou no restaurante e, depois de comer, fomos passear por Montmartre.

O tour clássico começou no “Eu Te Amo”, Praça de Tertre, Sacré-Cœur, que eu já conhecia, e seguimos para o Moulin Rouge. Ali mesmo, pegamos um metrô até o Trocadéro, para tirar foto com a Torre Eiffel. Depois, jogando conversa fora, andamos pela extensão do Sena (como em Our Last Summer de Abba 🤭).

À noite, fomos até o bairro Saint-Germain-des-Prés, mas estava vazio e desanimado, então depositamos a nossa fé no bairro Châtelet, que, segundo Lali, poderia ter alguma vida.

Por sorte, encontramos um café chamado Le Bon Pêcheur ( @lebonpecheur ), que além de charmoso, tinha uma comida deliciosa e, para melhorar, vinho que podíamos pagar.

Ali, celebramos o último jantar da nossa primeira viagem, só nós duas.

Thais em versos

Thai é futevôlei de manhã cedo
e um livro na rede no fim da tarde.
É tons pastéis por fora,
com uma aura vibrante por dentro.
É bate e volta pra praia,
e horas de conversa boiando no mar.
É abraço que acalma, escuta que acolhe —
terapeuta na sensibilidade,
companheira na bagunça.
É riso fácil, dancinha esquisita
e caipirinha com cachaça, sim.
É MPB em forma de gente —
e daria uma musa linda pra qualquer canção.
Thai chegou e ficou.
Te celebro hoje e sempre,
com o coração cheio de sorte por ter você por perto.
Para minha grande amiga Thais, feliz aniversário.

Madri: paletadas, pickpockets e palácios

Nós nos despedimos da Bélgica e embarcamos em um voo de duas horas e meia até Madri. Tudo ocorreu bem, tirando nossa tentativa (falha, por sinal) de chegar ao Airbnb por meio de transporte público. Aquele aeroporto parecia um labirinto, as sinalizações eram confusas, e os funcionários pareciam nunca ter conhecido a felicidade na vida.

Com frio, fome e, de brinde, uma mala quebrada, pedimos o primeiro Uber da viagem. No fim, chegamos ao nosso destino em 30 minutos, tempo que levaríamos cerca de 1h30 se fôssemos de metrô e ônibus. E aqui vai um aviso: o transporte público de Madri não é tão eficiente quanto nos outros países que visitamos — vagões de metrô entupidos (quase como na estação da Luz) e ônibus atrasados. Então, às vezes, vale mais a pena andar.

Ficamos no bairro La Latina, atravessando o rio Manzanares e perto do parque de San Isidro. Resumindo, estávamos a uma hora de caminhada da Plaza Mayor, o ponto turístico mais próximo. Parece muito, mas depois de termos sido alvo de pickpockets no ônibus, decidimos que era melhor ir a pé. Fizemos esse trajeto todos os dias, até saber de cor o caminho.

Os lugares imperdíveis nem precisam de muita explicação: Parque do Retiro, Museu do Prado, Reina Sofía e Palácio Real (novamente, comprem os ingressos com antecedência!).
Fomos ao Mercado de San Miguel, mas a lotação era tanta que nem conseguimos andar direito. No entanto, ao bater perna por Salamanca, encontramos o Mercado de La Paz, um mercadão mais local, menos movimentado e, na nossa opinião, tão gostoso quanto.

Entre partidas e reencontros

Salvador, mais uma despedida. Mais uma volta para São Paulo, com o peito apertado. Sempre juro para mim mesma que vai ficando mais fácil... Mas deixa eu te contar: essa é a maior mentira do mundo.

Aprendi a segurar o choro, a domar a ansiedade e a guardar – como se em uma caixinha – a emoção que sentia no início, mas que nunca se vai por completo.

Seja para passar um fim de semana ou um mês, todo tempo parece insuficiente, afinal, não há nada como estar em casa. O gostinho de adormecer com o aconchego da mãe e de despertar com os inúmeros beijos do pai é insubstituível (e muito melhor que uma chamada de vídeo).

Esse início da vida adulta – com o trabalho que proporciona cada vez menos férias e os meses intermináveis sem retornar à minha cidade – assusta.

As incertezas de um futuro longe da família, daquela rotina que eu conhecia tão bem e que hoje parece uma memória distante, em meio a idas e vindas, chegam a ser quase insuportáveis.

Mas, a cada partida, aprendo que a saudade também é uma forma de amor, e que, mesmo na distância, cada adeus carrega a promessa silenciosa de um reencontro.

Nessas horas, minha mãe sempre pergunta: “Filha, você está feliz aí?” e, apesar de tudo, a resposta é sim. Estou correndo atrás dos meus sonhos, trilhando meu próprio caminho. Como já dizia Gal Costa:

Eu por aqui vou indo muito bem
De vez em quando brinco Carnaval
E vou vivendo assim: felicidade
Na cidade que eu plantei pra mim

Salvador, meu carnaval

O Carnaval de Salvador é o melhor e pode me chamar que eu brigarei nos comentários de qualquer publicação que diga o contrário. Desde os quatorze anos vivendo essa maluquice, considero-me uma pessoa até que experiente para opinar sobre o assunto. Por isso, pega o bloquinho e a caneta pra anotar as dicas que vou te dar, isso se você tem até uns 24 anos. Se não se encaixar nessa faixa etária, posso passar o contato da minha mãe e ela vai te dar dicas mais acessíveis para o seu público.

Se você pretende curtir o carnaval, vale se hospedar perto dos circuitos e buscar fazer tudo a pé – já que aquela região fica travada. Mototaxi também é uma opção rápida, mas cuidado com capacetes fedidos! E eu não confiaria nos patinetes elétricos... Ô troço difícil de usar!

Camarote, escolha por atrações, pois, na minha humilde opinião, isso conta muito mais, afinal você quase não vê os trios e vai mesmo pra curtir o show de lá. Mas não é algo que eu faria todos os dias, novamente, se você tem a minha idade e recebe um mísero salário de estagiário. Até porque, a experiência na rua tem seu lugar.

Nunca fui grande frequentadora de blocos, mas tenho amigos que vão para o Eva todo ano.

E aí chegamos na escolha mais certeira se você é jovem, quer curtir e gastar pouco: a pipoca. Em Salvador, os blocos acontecem dentro de cordas, que você só entra se tiver um abadá, pagar um ingresso e tudo mais. A pipoca é o termo usado para se referir aos foliões que seguem o bloco do lado de fora da corda, na rua. O público mais novo, até uns 22 anos, costuma se concentrar na Barra, perto do Farol, e ir para o palco Beats, que fica ali na frente do camarote Espresso 2222, quando os trios acabam de passar. Já a galera mais velha, geralmente, vai para Ondina, onde os trios só chegam mais tarde, pois é o final do circuito.

Dica de amiga: não vá sozinho em banheiro químico, não leve celular novo e cuidado com cartão de aproximação. Ah! Se os trios de qualquer cantor de pagodão estiverem passando, vá para algum canto e deixe passar. Normalmente, essas pipocas são muito briguentas e agressivas. De resto, já compra sua passagem pra curtir o carnaval de Salvador e a gente se encontra por lá!